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Hierarquia do financiamento

O dinheiro muitas vezes é caro demais. — RALPH WALDO EMERSON, ENSAÍSTA E POETA

Imagine que você tenha inventado uma máquina antigravidade capaz de fazer objetos sólidos levitarem sem usar muita energia. A sua invenção revolucionará as indústrias de transporte e manufatura, possibilitando muitos novos produtos. A demanda para a sua invenção é garantida — tudo o que você precisa fazer é criar aparelhos suficientes para satisfazê-la.


Há um problema, contudo — estimativas indicam que montar uma linha de produção com os equipamentos necessários para construir esses aparelhos custará 1 bilhão de dólares. Infelizmente, você não tem 1 bilhão sobrando na sua conta bancária. A sua máquina obviamente solucionará um enorme problema, mas o próximo passo está além das suas possibilidades. O que você faz?


O Financiamento pode ajudá-lo a fazer coisas que de outra forma seriam impossíveis com o seu orçamento atual. Se o seu negócio demandar equipamentos caros ou muitos empregados para criar e entregar valor, você provavelmente precisará de Financiamento externo. Nem todo mundo tem enormes quantias de dinheiro na conta bancária esperando para ser utilizado, mas é surpreendentemente fácil entrar em contato com pessoas que têm esse dinheiro.


O Financiamento é como combustível de foguete. Se o seu negócio precisa de capacidade adicional e já estiver avançando na direção certa, a utilização judiciosa do Financiamento pode ajudá-lo a acelerar o crescimento da operação. Se o negócio tiver problemas estruturais, ele explodirá, e não no bom sentido.


Para obter acesso ao Financiamento, muitas vezes é necessário abdicar de certo controle sobre as operações do negócio. Investidores não lhe darão dinheiro em troca de nada — eles sempre pedirão algo de volta.


Lembre-se de que proporcionar Capital é uma forma de valor para muitos negócios. Seus credores ou investidores procuram receber algum valor em troca dos recursos — juros, pagamentos de aluguel ou uma participação nos lucros da sua empresa. Eles também estão em busca de uma maneira de reduzir o risco de perder tudo o que investiram se o negócio fracassar. Para minimizar o risco, eles pedem controle: a possibilidade de influenciar as operações do negócio. Quanto mais dinheiro você pedir, mais controle eles vão querer.


Acredito ser útil imaginar uma Hierarquia do Financiamento: uma escadaria de opções disponíveis. Cada empresário começa embaixo e sobe o máximo que puder na escadaria. Quanto mais você subir, mais Financiamento obterá e mais controle renunciará em troca.


Vamos analisar a Hierarquia do Financiamento, começando de baixo:


O Caixa Pessoal é de longe a melhor forma de financiamento. Investir ativos que você já tem é rápido, fácil e não requer nenhuma aprovação ou burocracia. A maioria dos empreendedores começa financiando a si mesmos o máximo que puderem.


Crédito Pessoal é outro método de financiamento de baixo custo. Se suas necessidades não excederem alguns milhares de dólares, é fácil financiar as despesas com Crédito Pessoal. A aprovação é geralmente rápida se você tiver um bom crédito na praça e o pagamento ao longo do tempo ajuda a aumentar o seu fluxo de caixa. Você arrisca arruinar o seu Crédito Pessoal (uma forma de Reputação) se não conseguir fazer os pagamentos, mas para muitos empreendedores vale a pena correr esse risco.


Eu financiei todo o meu negócio com recursos próprios e crédito pessoal. Se as suas necessidades forem modestas, usar crédito pessoal para financiar sua start-up é uma boa opção desde que você mantenha seu orçamento sob controle.


Empréstimos Pessoais normalmente são oferecidos por amigos e parentes. Se você precisar de mais dinheiro do que é capaz de cobrir com Caixa Pessoal e Crédito Pessoal, não é raro pedir empréstimos de amigos e parentes. Mas tome cuidado: o risco de você não conseguir pagá-los de volta é bastante concreto e pode ter um efeito devastador em importantes relacionamentos pessoais. Por essa razão, aconselho evitar pedir que seus pais ou avós apostem suas economias na sua ideia — você tem outras opções.


Empréstimos Não Garantidos normalmente são oferecidos por bancos e cooperativas de crédito. Você preenche uma proposta, solicita uma determinada quantia de dinheiro e o banco avaliará a sua capacidade de pagar o empréstimo com juros ao longo de um determinado período. O empréstimo pode ser um valor único ou uma linha de crédito que pode ser utilizado a qualquer momento. O banco não exige garantia para valores mais baixos (alguns milhares de dólares), de forma que a taxa de juros provavelmente será um pouco mais alta do que um cartão de crédito ou um empréstimo garantido.


Os Empréstimos Garantidos exigem algum tipo de garantia. Hipotecas e financiamentos de automóveis são bons exemplos de empréstimos garantidos: se você não fizer os pagamentos, o credor pode legalmente tomar a propriedade prometida como garantia. Como o credor pode vender essa propriedade para recuperar os fundos, os Empréstimos Garantidos são muito mais vultosos que os Empréstimos Não Garantidos: dezenas ou centenas de milhares de dólares


Obrigações são dívidas vendidas a credores individuais. Em vez de pedir um empréstimo a um banco, a empresa pede que pessoas físicas ou outras empresas lhe emprestem diretamente do dinheiro. Os compradores de obrigações dão dinheiro diretamente à empresa, que é devolvido com uma determinada taxa de juros ao longo de um determinado período. Quando o prazo expirar (isto é, a Obrigação “ vencer”), a empresa deve devolver o empréstimo original além dos pagamentos já realizados. O processo legal e regulamentar envolvido no mercado de Obrigações pode ser extremamente complexo, de forma que as Obrigações normalmente são emitidas por meio de um banco de investimentos.


O Financiamento de Contas a Receber é um tipo especial de empréstimo seguro exclusivo para empresas. O Financiamento de Contas a Receber pode disponibilizar milhões de dólares, mas a um custo: a garantia para o empréstimo é o controle sobre contas a receber da empresa. Como o banco passa a controlar as contas a receber, eles podem se assegurar de que o empréstimo seja pago antes de qualquer outra despesa, inclusive salários de empregados e contratos de fornecedores. Grandes volumes de financiamento são disponibilizados, mas você abdica de uma grande parte do controle ao credor.


O Capital Anjo representa o ponto em que passamos de Empréstimos a Capital. Um “ anjo” é um investidor privado individual — alguém que tenha riqueza em excesso e que gostaria de investir em uma empresa privada, normalmente entre 10 mil a 1 milhão de dólares. Em troca, ele se torna proprietário de 1 a 10% do negócio.


Usar um investidor anjo é um pouco como ter um parceiro silencioso — eles lhe dão Capital e em troca você lhes dá a posse parcial do negócio. Alguns anjos oferecem aconselhamento e se mantêm disponíveis para consultas, mas em geral não têm o poder de tomar decisões de negócios.


O Venture Capital vai além do financiamento proporcionando pelos investidores anjos. Os Venture Capitalists (VCs) são investidores extremamente abastados (ou grupos de investidores que concentram seus fundos) com enormes quantias de Capital disponíveis: dezenas (ou centenas) de milhões de dólares em um único investimento. O Financiamento por meio do Venture Capital ocorre em “ rodadas” que começam com um valor relativamente baixo e crescem à medida que mais Capital é necessário. Rodadas posteriores podem diluir a porcentagem de propriedade dos acionistas atuais, de forma que em geral muitas negociações são envolvidas. Os VCs também exigem muito controle em troca de muito Capital, o que normalmente significa participação no conselho de administração da empresa.


Uma Oferta Pública de Ações envolve vender uma parte do direito de propriedade da empresa a investidores no mercado aberto. Isso normalmente é feito por meio de bancos de investimento: instituições financeiras que disponibilizarão a um negócio enormes quantias de Capital em troca de participação acionária desse negócio a ser vendida no mercado de ações. Os bancos de investimento ganham vendendo com uma margem de lucro as ações compradas a investidores individuais no mercado aberto. Uma oferta pública inicial de ações (IPO) é simplesmente a primeira Oferta Pública de Ações de uma empresa no mercado aberto.


Qualquer investidor que compre ações é legalmente um proprietário parcial da empresa, o que lhe dá o direito de participar de decisões administrativas elegendo o conselho de administração. Quem tiver a maior participação da empresa a controla, de forma que abrir o capital vem acompanhado do risco de uma aquisição hostil: a compra de um grande volume de ações na tentativa de tomar o controle da empresa.


As Ofertas Públicas de Ações normalmente são utilizadas por investidores anjos e Venture Capitalists para trocar propriedade por dinheiro. Os investidores podem receber seus retornos de duas maneiras: recebendo dividendos que distribuem os Lucros da empresa ou vendendo suas ações a outro investidor. Ofertas Públicas de Ações permitem que os investidores vendam suas ações em troca de dinheiro, de forma que é comum para anjos e VCs forçar empresas de sucesso a “ abrir o capital” ou a ser adquiridas por outra empresa assim que possível para recuperar o investimento.


Quanto mais controle você precisar renunciar por dólar de Financiamento obtido, menos atraente será a fonte de Financiamento. Quanto mais pessoas você precisar consultar antes de tomar decisões, mais morosas serão as operações da empresa. Os investidores aumentam a Sobrecarga de Comunicação (que veremos adiante), o que pode afetar desfavoravelmente a sua capacidade de agir rapidamente.


Também não é raro para investidores demitir executivos de uma empresa que não esteja apresentando um bom desempenho, mesmo se esses executivos forem os fundadores da empresa. Nem executivos célebres estão imunes a isso: quando a Apple estava apresentando um desempenho abaixo das expectativas nos anos 1990, o conselho de administração demitiu Steve Jobs da empresa que ele ajudou a fundar. Uma palavra de alerta: antes de pedir emprestado grandes somas de Capital, veja quanto Poder (que discutiremos adiante) o conselho de administração terá sobre as operações da empresa.


O Financiamento pode ser útil, mas cuidado para não abrir mão de muito controle sobre as operações do seu negócio — não aceite Capital às cegas ou levianamente.


Fonte: http://book.personalmba.com/hierarchy -of-funding/


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